Cranberry previne infecção urinária em gestantes?
Infecção do trato urinário (ITU), é a condição infecciosa mais comum nas mulheres de todas as faixas etárias, afeta aproximadamente 10% das mulheres grávidas, sendo considerada a segunda disfunção mais prevalente, depois da anemia.
A compressão extrínseca dos ureteres e a redução da atividade peristáltica provocada pela progesterona na gestação provocam dilatação progressiva das pelves renais e ureteres. Essas mudanças, com o aumento do débito urinário, levam à estase urinária, a qual ainda é favorecida pela diminuição do tônus vesical, com subsequente aumento da capacidade da bexiga e seu esvaziamento incompleto, o que facilita o refluxo vesicoureteral e pielonefrites.
Além disso, o rim também perde a capacidade máxima de concentrar a urina, reduzindo sua atividade antibacteriana, e passa a excretar quantidades maiores de glicose e aminoácidos, favorecendo assim um meio mais propício para proliferação bacteriana.
A relação entre o cranberry e ITU em gestantes
O Cranberry (Vaccinium macrocarpon) possui diversos compostos fenólicos livres, flavonoides, estibenos e proantocianidinas, as quais são relacionadas com a redução da aderência da Escherichia coli nas células epiteliais do trato urinário, promovendo melhora na microbiota dessa região. A proantocianidina A é a principal substância bioativa relacionada a essa ação.
Um estudo controlado randomizado comparou diretamente a eficácia de um medicamento antibiótico com o suplemento diário de extrato de cranberry em mulheres acometidas de infecção urinária recorrente. O cranberry (500mg) e o antibiótico utilizado (100mg de trimetoprina) mostraram equiparação na eficácia da prevenção de infecções do trato urinário, porém, como quando comparado a um medicamento com inúmeros efeitos colaterais, não foram observados tais efeitos com a utilização do cranberry.
Wing e colaboradores realizaram um estudo controlado randomizado com 188 mulheres grávidas com menos de 16 semanas de gestação e compararam a eficácia do uso do suco de cranberry com uma substância placebo. Segundo os pesquisadores, houve uma redução de 57% na bacteriúria e uma redução de 41% nos casos de infecções urinárias nas gestantes que utilizaram cranberry. Os autores acreditam que esse resultado foi também devido ao mecanismo de inibição da adesão de bactérias entéricas pileadas, como E.coli, ao uroepitélio.
Um copo de 240 ml a 300 ml do suco de cranberry, uma ou duas vezes por dia, pode promover a absorção, em média, de 36mg de proantocianidina. O concentrado de cranberry geralmente é dissolvido em água, porém tal diluição deve ser de pelo menos 25% para manter o efeito protetor. O ideal é que não haja adição de açúcares na bebida, e se o consumo for realizado por meio de suco de caixa, a paciente deve checar se o produto contém açúcar e qual a proporção de suco de cranberry no produto.
A infeção urinária pode afetar a qualidade de vida da gestante e aumentar o risco de morbidade materna e fetal neste período. Por isso, exames de rotina de urina e urocultura durante a gravidez devem ser solicitados mesmo em mulheres assintomáticas, como forma preventiva. Não é recomendado o uso do cranberry para gestantes que utilizem medicamentos anticoagulantes orais como a varfarina.
Referências
FU, Z.; LISKA, D.; TALAN, D.; CHUNG, M. Cranberry Reduces the Risk of Urinary Tract Infection Recurrence in Otherwise Healthy Women: A Systematic Review and Meta-Analysis. The Journal of Nutrition. v.147, n.12, p.2282-2288, 2017.

Nutricionista
Diretora PratiEnsino
Preceptora de residência clínica (HUPE/UERJ)
Especialista em nutrição clínica estética e saúde da mulher