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Fitoterapia no Esporte

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Fitoterapia no esporte

A fitoterapia corresponde à “prática terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal” (ANVISA, 2010). O número de trabalhos científicos utilizando fitoterápicos cresce a cada dia, visto sua ampla gama de usos e efeitos fisiológicos já consolidados (CALAPAI; CAPUTI, 2007). Fitoterápicos correspondem a um fitocomplexo que é um conjunto de fitoquímicos atuando por diversos mecanismos de ação de maneira sinérgica, reduzindo assim possíveis efeitos adversos (KRAFT; LANGHORST, 2014). Em uma época que há aumento da procura por produtos com eficácia comprovada e que promovam o mínimo de efeitos colaterais, não é incomum sua aplicação no meio do desporto (DEANE et al., 2017).

O exercício físico impõe uma série de desafios fisiológicos aos seus praticantes: aumento na produção de radicais livres e espécies reativas de oxigênio, geração de marcadores de inflamação, microlesões teciduais adaptativas (MTA), desequilíbrio entre hormônios anabólicos (testosterona) e catabólicos (cortisol) principalmente em casos de inadequado descanso e dieta hipocalórica, dentre outros (GLEESON; WILLIAMS, 2013). Assim, as demandas para o indivíduo fisicamente ativo são mais do que apenas “atingir a cota diária de calorias e macronutrientes”.

Neste contexto, é necessário pontuar alguns aspectos sobre desempenho esportivo. De maneira geral, podemos considerar que existem parâmetros diretos e indiretos de performance. Quando nos referimos aos diretos, nos referimos aos específicos à modalidade em questão: carga máxima levantada em Levantamento de Peso Olímpico (LPO), tempo de prova na natação/ciclismo/corrida (quanto menor o tempo, melhor o desempenho), etc. Em relação às modalidades coletivas como basquete, futebol, vôlei, quantificar desempenho é mais desafiador, visto que este componente é multifatorial (nem sempre o indivíduo mais atlético tem melhor desempenho). Exemplo claro disso é o do argentino Lionel Messi, eleito o melhor do mundo várias vezes, mas “tá longe” de ser o mais atlético. Os aspectos indiretos estão associados a diversos outros tópicos, como:

  1. a) Promoção de analgesia (FREITAS et al, 2017): gengibre (Zingiber officinale), pimenta vermelha (Capsicum annuum), arnica (arnica montana). Há diversos trabalhos comparando os efeitos analgésicos do gengibre, em atletas, com anti-inflamatórios não-esteroides, como Ibuprofeno;
  2. b) Aumento na velocidade de glicogênese em resposta à supercompensação de carboidratos (RUBY et al, 2005): fenogrego (Trigonella foenum-graecum). Possível aplicação para modalidades que tem vários eventos competitivos no mesmo dia ou dias seguidos, como Crossfit, judô, fisiculturismo;
  3. c) Incremento da Capacidade Antioxidante do plasma e up regulation de enzimas antioxidantes e anti-inflamatórias: chá verde (Camellia sinensis), Urucum (Bixa orellana), açafrão (Curcuma longa);
  4. c) Redução de dores e limitações osteoarticulares: bosvélia (Boswellia serrata), camomila (Matricaria recutita), guarra do diabo (Harpagophytum procumbens);
  5. d) Prevenção de dano muscular (TANABE et al, 2005) e outros indicadores de overreaching não funcional: Tribulus (Tribulus terrestres), ginseng indiano (Whitania somnifera);
  6. e) Promoção de vasodilatação, melhorando desempenho (tempo contrarrelógio) e recuperação a sessões de treino extenuantes: romã (Punica granatum), Groselha (Ribes nigrum), limão verbena (Aloysia citridora), beterraba (Beta vulgaris);
  7. f) redução da imunossupressão promovida pelo exercício ao diminuir a incidência de infecções do trato respiratório superior: Pelargonium sidoides.

Aspecto chave na prescrição dietética para desportistas é o conceito de periodização nutricional em diferentes fases do treino (micro, meso e macrociclos) a estratégia nutricional é diferente (e, assim, o uso de fitoterápicos). Além disso, a população-alvo também tem grande influência na resposta à estratégia (será que um determinado fitoterápico funciona da mesma maneira em jovens e idosos? Ou em situações de dietas hipocalóricas versus dietas hipercalóricas?). Interessante frisar que os fitoterápicos de uso tradicional (aqueles que usamos “desde sempre no dia a dia”) são capazes de “dar conta do recado”, posto que já se demostraram capazes de atuar nos contextos supracitados.

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Assim, fica evidente a aplicabilidade de fitoterápicos no esporte, tanto para melhorar desempenho (direto) como aspectos associados (indiretos). O uso associado de várias plantas vem ganhando atenção, posto o sinergismo possível entre os diferentes fitoquímicos. Mas cuidado, estas associações implicam em possíveis interações farmacológicas que devem ser avaliadas caso a caso!

Referências

  1. ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), 2014a. Resolução e RDC nº 26, de 13 de maio de 2014 e dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos e o registro e a notificação de produtos tradicionais fitoterápicos.
  2. Calapai G, Caputi AP. Herbal medicines: Can we do without pharmacologist? Evidence-based Complement Altern Med. 2007;4(SUPPL. 1):41–3.
  3. Kraft K, Langhorst J. Phytotherapy – New developments and insights into practice. Forsch Komplementarmed. 2014;21(6):345–6.
  4. Deane CS, Wilkinson DJ, Phillips BE, et al. “Nutraceuticals” in relation to human skeletal muscle and exercise. Am J Physiol – Endocrinol Metab [Internet]. 2017;312(4):E282–99.
  5. Freitas M, Cholewa JM, Freire RV, et al. Acute capsaicin supplementation improves resistance training performance in trained men. J Strength Cond Res [Internet]. 2017;1.
  6. Gleeson M, Williams C. Intense exercise training and immune function. Nestle Nutr Inst Workshop Ser. 2013 Jan; 76:39–50.
  7. Luna LA Jr, Bachi AL, Novaes e Brito RR, et al. Immune responses induced by Pelargonium sidoides extract in serum and nasal mucosa of athletes after exhaustive exercise: modulation of secretory IgA, IL-6 and IL-15. Phytomedicine. 2011 Feb 15;18(4):303-8.
  8. Sellami, M., Slimeni, O., Pokrywka, A. et al. Herbal medicine for sports: a review. J Int Soc Sports Nutr 15, 14 (2018).
  9. Torregrosa-García A, Ávila-Gandía V, Luque-Rubia AJ, Abellán-Ruiz MS, Querol-Calderón M, López-Román FJ. Pomegranate Extract Improves Maximal Performance of Trained Cyclists after an Exhausting Endurance Trial: A Randomised Controlled Trial. Nutrients. 2019 Mar 28;11(4):721.
  10. Willems MET, Bradley M, Blacker SD, Perkins IC. Effect of New Zealand Blackcurrant Extract on Isometric Contraction-Induced Fatigue and Recovery: Potential Muscle-Fiber Specific Effects. Sports (Basel). 2020 Oct 15;8(10):135.
Caio Victor
Caio Victor
Nutricionista Mestre em Ciências da Nutrição (UFPB/USP) Coordenador da pós-graduação em Fitoterapia do PratiEnsino
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