Relação entre a microbiota intestinal e a síndrome do ovário policístico
A síndrome do ovário policístico (SOP) é um distúrbio endócrino feminino que provoca alterações hormonais. Alguns estudos prévios demonstraram redução na diversidade e na composição do microbioma intestinal em algumas etnias de mulheres com SOP.
Evidências científicas sugerem que alterações na microbiota intestinal, provocada por uma alimentação inadequada, acarretam em um aumento na permeabilidade da mucosa intestinal. E tal fato consequentemente gera um aumento da passagem de lipopolissacarideos (LPS) de bactérias colônicas Gram negativas para a circulação sistêmica.
O consumo de alimentos industrializados e ultraprocessados, farinhas brancas e sem fibras, aliadas ao sedentarismo, podem acarretar no desequilíbrio da microbiota intestinal.
Assim, pode ser notado o aumento da permeabilidade da mucosa intestinal, que aliada à presença de lipopolissacarídeos (toxinas) originários de bactérias gram-negativas, pode influenciar nosso sistema imunológico e induzir estados inflamatórios e de resistência insulínica.
A insulina livre em excesso no sangue pode ocasionar no aumento da síntese dos hormônios androgênicos, como por exemplo, a testosterona.
Atualmente na síndrome do ovário policístico, propostas como a mudança no estilo de vida e nos hábitos alimentares vêm sendo indicadas como primordiais, complementando assim, o tratamento convencional.
O QUE DIZEM OS ESTUDOS CIENTÍFICOS?
Torres et al, em um estudo conduzido com 90 mulheres, sendo elas 42 portadoras de SOP e 48 do grupo controle, mostraram que participantes com SOP apresentam menor quantidade e diversidade de bactérias probióticas, em comparação com as do grupo controle.
As alterações na microbiota intestinal foram associadas a níveis elevados de testosterona total. Além disso provocou o aparecimento de sintomas como hirsutismo (pilosidade excessiva e de aspecto masculino em locais normalmente desprovidos de pelos).
Portanto, segundo os autores quanto maior a alteração microbiana no organismo, maiores eram os níveis de testosterona e mais acentuados eram os sintomas.
Guo et al, em um estudo intervencional com ratos, convalidaram que a composição da microbiota intestinal em animais sintomáticos tratados com letrozol mostrou-se diferente da composição microbiana de animais do grupo controle.
O letrozol é um inibidor não-esteróide da aromatase pertencente à classe de medicamentos bloqueadores da enzima aromatase. A aromatase é uma enzima responsável pela conversão de testosterona em estradiol.
Os níveis de Lactobacillus, Ruminococcus e Clostridium foram menores, enquanto os de Prevotella foram maiores. Após o tratamento com Lactobacillus e transplante de microbiota fecal de ratos saudáveis, verificou-se que os ciclos estrais melhoraram na grande maioria dos animais, havendo diminuição da biossíntese de andrógenos. Além disso as morfologias ovarianas normalizaram.
Tais resultados, segundo os estudiosos, indicam que o desequilíbrio da microbiota intestinal pode estar associada à patogênese da SOP, determinando então, que intervenções de microbiota através do transplante fecal e Lactobacillus podem ser benéficas para o tratamento de ratos com Síndrome do Ovário Policístico.
Em 2017, Lisa Lindheim e sua equipe investigaram o microbioma das fezes de mulheres com SOP. Parâmetros como integridade da mucosa intestinal, níveis inflamatórios e de endotoxinas também foram avaliados.
O microbioma das fezes dos pacientes com SOP mostrou menor diversidade e composição filogenética alterada em comparação ao grupo controle. Dessa forma, segundo os autores, alterações na microbiota intestinal apresentaram tendências semelhantes às variações dos sintomas metabólicos.
Portanto, evidências mostram que alterações na microbiota intestinal podem estar associadas às principais alterações metabólicas da síndrome do ovário policístico, necessitando de mais estudos para a devida confirmação e solidificação dos resultados.
REFERÊNCIAS
Torres, P.J.; Siakowska, M.; Banaszewska, B. et al. Gut Microbial Diversity in Women With Polycystic Ovary Syndrome Correlates With Hyperandrogenism. J Clin Endocrinol Metab; 103(4): 1502-1511, 2018.
Guo Y, Qi Y, Yang X, Zhao L, Wen S, Liu Y, et al. (2016) Association between Polycystic Ovary Syndrome and Gut Microbiota. PLoS ONE 11(4): e0153196. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0153196
Quaranta et al. Fecal Microbiota Transplantation: A Potential Tool for Treatment of Human Female Reproductive Tract Diseases. Front Immunol. 2019; 10: 2653. Published online 2019 Nov 26. doi: 10.3389/fimmu.2019.02653
Lindheim L, Bashir M, Münzker J, Trummer C, Zachhuber V, Leber B, et al. . Alterations in gut microbiome composition and barrier function are associated with reproductive and metabolic defects in women with polycystic ovary syndrome (PCOS): a pilot study. PLoS ONE. (2017) 12:e0168390. 10.1371/journal.pone.0168390

Nutricionista
Diretora PratiEnsino
Preceptora de residência clínica (HUPE/UERJ)
Especialista em nutrição clínica estética e saúde da mulher