Vitamina B12: Condições que Você deve Suspeitar de Deficiência
As deficiências de micronutrientes são comuns e atinge diferentes países do mundo independente das condições econômicas. Dentre elas, a da vitamina B12 (cobalamina) é reconhecida como um problema de saúde há quase 100 anos (Shipton e Thachil, 2015). A vitamina B12 é considerada essencial sendo sua deficiência associada ao surgimento de distúrbios neurológicos, psiquiátricos e hematológicos (BMJ Best Practice, 2021). As causas mais comuns dessa deficiência são sua absorção inadequada ou a falta de consumo na dieta (BMJ Best Practice, 2021), comum nos vegetarianos restritos, uma vez que as principais fontes dietéticas de vitamina B12 são os alimentos de origem animal.
Nos Estados Unidos, já foi demonstrado que a prevalência de deficiência de vitamina B12 aumenta de acordo com o envelhecimento, afetando cerca de 6% das pessoas com 60 ou mais anos (Shipton e Thachil, 2015). Além disso, sabe-se que as pessoas com maior risco dessa deficiência são os idosos, as pessoas com má absorção crônica ou com história de ressecção ou com bypass gástrico ou com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ou com uso crônico de certos medicamentos como a metformina (hipoglicemiante oral muito usado no tratamento da resistência insulínica e do diabetes mellitus) e os inibidores da bomba de prótons (família do zol – Omeprazol, Pantoprazol, Exomeprazol, Lansoprazol, Dexlansoprazol ou Rabeprazol usados no tratamento de doenças gástricas e esofagianas) (BMJ Best Practice, 2021). Sabe-se também que em algumas condições como na pancreatite crônica, no alcoolismo, na gravidez e em lactentes filhos de mães vegetarianas restritas ou veganas há uma elevada chance de deficiência de vitamina B12 (Manual MSD, 2019).
A deficiência de vitamina B12 se manifesta classicamente como anemia megaloblástica, mas também pode se manifestar com neuropatia periférica e queixas neuropsiquiátricas. Se a deficiência for grave pode gerar danos neurológicos irreversíveis. O diagnóstico precoce é fundamental para prevenir e impedir a progressão de distúrbios neurológicos, como a neuropatia periférica e a demência (BMJ Best Practice, 2021). Por isso, o monitoramento constante é importante nos grupos de maior risco.
Diagnóstico
A definição de deficiência de vitamina B12 varia de acordo com os critérios de diagnóstico adotado e recomenda-se a inclusão da avaliação do ácido metilmalônico e da homocisteína para o diagnóstico em um estágio precoce e assintomático.
O quadro 1 apresenta os níveis séricos de cobalamina para definição da deficiência, lembrando que os níveis séricos podem estar associados a presença de sinais e sintomas e/ou aos níveis séricos elevados de homocisteína ou do ácido metilmalônico (Shipton e Thachil, 2015).
Quadro 1. Classificação dos níveis de Cobalamina
Níveis séricos de Cobalamina | Classificação |
<148 picomoles/L (<200 picogramas/mL) | Deficiência |
148 a 258 picomoles/L (201 a 350 picogramas/mL) | Possível deficiência |
>258 picomoles/L (>350 picogramas/mL) | Normal |
Uma vez confirmado o diagnóstico, deve-se investigar a causa da deficiência de vitamina B12, a fim de que seja implementado o tratamento que garanta a reversão completa do quadro.
Exames laboratoriais complementares
Solicitar hemograma completo, esfregaço de sangue periférico, vitamina B12 sérica, contagem de reticulócitos, ácido metilmalônico sérico, homocisteína sérica, holotranscobalamina e anticorpo antifator intrínseco.
Ácido metilmalônico é o mais sensível marcador de deficiência de vitamina B12, suas concentrações séricas são cerca de mil vezes maiores do que as de vitamina B12, o que torna sua medida mais precisa. A deficiência de B12 acarreta aumento do ácido metilmalônico.
A homocisteína sérica ajuda no diagnóstico da deficiência de folato ou da vitamina B12. A concentração da homocisteína pode estar elevada antes dos níveis de vitamina B12 e folato ficarem anormais. O monitoramento da homocisteína deve ser feito nos pacientes desnutridos, nos idosos, nos que apresentam má absorção de vitamina B12 da alimentação, nos dependentes químicos de drogas ou álcool.
A holotranscobalamina (holoTC) é conhecida como a vitamina B12 ativa sendo a forma que pode ser absorvida pelas células do organismo. A HoloTC é o resultado da ligação da vitamina B12 (cobalamina) com a proteína transcobalamina, que transporta a vitamina B12.
Os anticorpos antifator intrínseco são usados para diferenciar a anemia perniciosa das demais anemias megaloblásticas, pois esses se encontram elevados em crianças e jovens com anemia perniciosa. Os anticorpos são de 2 tipos: Tipo I que impede a ligação do fator intrínseco com a vitamina B12 e o Tipo II que se liga tanto ao fator intrínseco livre quanto a vitamina B12. O teste parece ser útil na detecção da má absorção senil da vitamina B12. Deve ser solicitado em adultos com anemia perniciosa cuja etiologia esteja associada com gastrite crônica atrófica.
Tratamento
O tratamento com altas doses orais de vitamina B12 pode ser tão eficaz quanto a terapia de vitamina B12 intramuscular.
O estudo de revisão sistemática de Vidal-Alaball et al (2016) que teve por objetivo avaliar a eficácia da vitamina B12 oral versus vitamina B12 intramuscular, analisou dois ensaios randomizados do tipo caso-controle que juntos, acompanharam 93 participantes num período que variou de 90 dias a quatro meses. Os autores concluíram que altas doses orais de B12 (1000 mcg e 2000 mcg) foram tão eficazes quanto a administração intramuscular na obtenção de respostas hematológicas e neurológicas em pacientes com deficiência de vitamina B12.
Referência
Markun S, Gravestock I, Jäger L, Rosemann T, Pichierri G, Burgstaller J M. Effects of Vitamin B12 Supplementation on Cognitive Function, Depressive Symptoms, and Fatigue: A Systematic Review, Meta-Analysis, and Meta-Regression. Nutrients 2021, 13, 923. https://doi.org/10.3390/ nu13030923.
Julian T, Syeed R, Glascow N, Angelopoulou E, Zis P. B12 as a Treatment for Peripheral Neuropathic Pain: A Systematic Review. Nutrients 2020, 12, 2221; doi:10.3390/nu12082221.
Vidal-Alaball J, Butler C, Cannings-John R, Goringe A, Hood K, McCaddon A, McDowell I, Papaioannou A. Oral vitamin B12 versus intramuscular vitamin B12 for vitamin B12 deficiency. Cochrane Database Syst Rev 2016.; (3): CD004655. doi:10.1002/14651858.CD004655.pub2.
Shipton MJ; Thachil J. Vitamin B12 deficiency – A 21st century perspective. Clinical Medicine 2015, Vol 15, No 2: 145–50.
Manual MSD versão profissional de saúde. Deficiência de vitamina B12. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-nutricionais/ defici%C3%AAncia-depend%C3%AAncia-e-toxicidade-das-vitaminas/defici% C3%AAncia-de-vitamina-b12.

Nutricionista
Diretora PratiEnsino
Preceptora de residência clínica (HUPE/UERJ)
Especialista em nutrição clínica estética e saúde da mulher