Nutrição de precisão, muito mais do que a genética.
O telômeros são as extremidades dos cromossomos e sua função é extremamente importante para a manutenção e a integridade do DNA. Com o envelhecimento biológico ocorre o seu encurtamento. Vários estudos mostram que telômeros mais curtos estão associados a presença de doenças agudas e crônicas, ao estresse, aos vícios e intoxicações. Na atual pandemia de COVID-19 foi demonstrado que o encurtamento dos telômeros tem potencial para ser entendido como um possível marcador de gravidade.
A boa notícia é que os hábitos de vida saudáveis podem contribuir para o aumento do comprimento dos telômeros e consequentemente o equilíbrio de várias funções celulares, prevenindo doenças.
Portanto, temos clareza de que mudanças de estilo de vida como: aumentar a ingestão de alimentos in natura ou minimamente processados; preferir os alimentos orgânicos; evitar uso de embalagens plásticas; evitar embalagens ou panelas de alumínio; preferir utensílios de cozinha em aço ou silicone; reduzir o tempo de sedentarismo; se permitir tempo livre de estresse e aumentar o tempo de meditação ou oração, são capazes de prolongar o tempo de vida saudável.
Por outro lado, reconhece-se que o tabagismo, o alcoolismo, o sedentarismo, o estresse excessivo e constante, a poluição ambiental e o consumo de alimentos processados e ultra processados como padrão alimentar usual podem encurtar o tempo de vida saudável do ser humano.
Nota-se também inúmeras informações sendo divulgadas na internet, nas redes sociais e até mesmo em cursos, a respeito da suplementação de vitaminas, de minerais, de nutracêuticos e de fitoterápicos entre outros, sem considerar o estado nutricional do indivíduo, nem sua real demanda nutricional e bem como sua capacidade de utilizar o aporte oferecido. Sabe-se que o estresse oxidativo realmente pode agravar as desordens orgânicas, porém a oferta indiscriminada de antioxidantes de forma impensada pode piorá-las.
Como exemplo pode-se destacar a antocianina que exerce efeito antidiabético, melhorando a resistência à insulina e a hiperglicemia no DM2, por regular negativamente a expressão de enzimas gliconeogênicas (PEPCK e G6Pase), enquanto regulava positivamente a expressão de PAPR-α, Glut4, L-Cpt-1 e aconitase (Aco) no tecido hepático. Já a quercetina é um flavonoide capaz de regular negativamente a expressão dos genes Cdkn 1a (regulador do ciclo celular) e induzíveis à óxido nítrico sintase (NOS 2) no fígado e pâncreas. Desta forma, os flavonoides presentes na dieta têm um potencial antidiabético significativo, como evidenciado pela expressão gênica no fígado, pâncreas e músculos esqueléticos. Sendo possivelmente reguladores das respostas induzidas por nutrientes, como liberação de insulina das ilhotas β, sensibilidade nos tecidos que respondem à insulina, proliferação e regeneração das ilhotas β e sua sobrevivência.
Como saber o que funciona para o seu paciente de forma mais efetiva? Como saber quais os fatores ambientais e alimentares são capazes de promover a expressão de um polimorfismo capaz de adoecer o indivíduo que está sob seus cuidados? Quais são as modificações verdadeiramente imprescindíveis para aumentar a expectativa de vida saudável? Que suplementos são realmente importantes para o seu paciente que tem um determinado perfil genético? Suplementações generalistas e recomendações corriqueiras como “toma suco verde todos os dias” pode piora seu paciente com este tipo de perfil genético?
A resposta disto está no genoma. Hoje estas perguntas são válidas de serem pensadas a luz da ciência moderna e quanto mais cedo soubermos ler o manual de instruções do nosso corpo mais chances temos de prolongar o tempo de vida com saúde. Portanto, a Nutrição de Precisão já está disponível no Brasil havendo uma lacuna imensa de profissionais capazes de entendê-la e colocá-la na sua prática clínica.
Referências:
Góes AC de S e Oliveira BVX de. Projeto Genoma Humano: um retrato da construção do conhecimento científico sob a ótica da revista Ciência Hoje. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1516-73132014000300004.
Resolução nº 689 do Conselho Federal de Nutricionistas de maio de 2021.
Rana S, Kumar S, Rathore N, Padwad Y, Bhushana S. Nutrigenomics and its Impact on Lifestyle Associated Metabolic Diseases Curr Genomics. 2016 Jun; 17(3): 261–278. doi: 10.2174/1389202917666160202220422.
Nutricionista
Diretora PratiEnsino
Preceptora de residência clínica (HUPE/UERJ)
Especialista em nutrição clínica estética e saúde da mulher
