Google search engine
InícioScienceNutrição EsportivaPeriodização Nutricional no Esporte

Periodização Nutricional no Esporte

- Publicidade -

Periodização Nutricional no Esporte

A conexão entre “dieta” e “exercício” é reconhecida há séculos. Reconhece-se que o termo “treinamento” foi usado e definido para descrever “um regime ou ação de executar exercícios e dieta com a finalidade de preparação para um determinado evento esportivo”. Houve um período em que a alimentação era (ainda é) considerada para tão fundamental da preparação de atletas que o termo “treinamento” estava mais atrelado a dieta do que aos exercícios em si.

As respostas adaptativas ao treinamento (exercício) são determinadas por uma associação de diversas variáveis: tipo de exercício, frequência de treinamento, duração, intensidade, velocidade de contração, intervalo de repouso, etc. Porém, as estratégias nutricionais realizada ao longo de ciclos de treinamento em diferentes fases também estão diretamente relacionadas. Tem se tornado cada vez mais claro e evidente que, as adaptações estimuladas pelo exercício de natureza diversa, podem ser amplificadas ou atenuadas pela nutrição. Neste contexto, desde meados dos anos 90, diversos métodos têm sido discutidos (alguns destes com amplo interesse da comunidade científica) a fim de otimizar tais adaptações induzidas pelo treinamento.

Surge então, mais recentemente, o conceito de “periodização ou treinamento nutricional”, que se refere ao uso planejado, intencional e estratégico de intervenções nutricionais específicas que tem por objetivo amplificar as adaptações induzidas pelo treinamento dentro do contexto individual ou coletivo, visando a melhora de desempenho em longo prazo. A título de esclarecimento, o termo “timing de nutrientes”, não se refere necessariamente a periodização nutricional, mas sim ao tempo de ingestão de determinados nutrientes nos momentos pré e pós-treino. Por exemplo, um estudo realizado com ciclistas mostra que a ingestão de alimentos sólidos e densos em calorias proporcionou melhor recuperação dos estoques de glicogênio muscular nas 4 primeiras horas após o esforço em comparação ao uso de suplementos alimentares. Essa informação está muito mais relacionada ao timing de ingestão de nutrientes em função do seu comportamento (líquido versus sólido) do que a um modelo de periodização nutricional.

Training low talvez seja o modelo de periodização mais antigo já descrito pela literatura. É um termo geralmente utilizado para descrever o treinamento em baixo consumo de carboidratos. As formas como se atinge tal estado nutricional podem ser por meio da baixa concentração de glicogênio muscular e/ou hepático, baixo consumo de carboidratos na dieta como um todo, redução da ingestão de carboidratos antes, durante e após o exercício e, se possível e aconselhável, com a combinação destes. A justificativa está no fato de que a menor disponibilidade de carboidratos nos dias de treinamento resulta em adaptações favoráveis ao desempenho esportivo no dia de competição. Portanto, a manipulação dos estoques de glicogênio muscular desempenha papel fundamental nas adaptações induzidas pelo treinamento.

Talvez a maneira mais comum de treinar com o “glicogênio baixo” seja treinar em jejum noturno. Normalmente, a última refeição é consumida entre 20h e 22h da noite anterior e o exercício é realizado pela manhã antes da primeira refeição. Esta situação é diferente do método anterior, onde o glicogênio muscular foi reduzido pela redução do consumo de carboidratos. Embora o glicogênio muscular não seja afetado pelo jejum noturno, o glicogênio hepático sofre redução considerável.

- Publicidade -

Um dos modelos mais recentes de periodização de carboidratos no esportes foi intitulado “Sleep Low”. Embora possa parecer similar a estratégia do treinar em jejum noturno, este modelo de periodização foi validado considerando uma logística de treino diferente: treinar em baixa intensidade e longa duração pela manhã antes da primeira refeição (o famoso aeróbio em jejum) e realizar um treino de alta intensidade no final do dia (por exemplo, musculação). A ingestão de carboidratos se daria entre as sessões de treino sendo que as “pontas do dia” seriam isentas da ingestão de carboidratos. Alguns estudos mostraram resultados favoráveis de tal manobra não só a nível de desempenho esportivo, mas também sobre a composição corporal (perda de gordura).

É importante ressaltar que os estudos envolvendo periodização nutricional surgiram no âmbito do rendimento esportivo. Ou seja, o interesse em manipular a ingestão de nutrientes está na performance primariamente. Nos dias atuais é comum o tratamento da “nutrição estética”, que envolve hipertrofia e emagrecimento com a participação do exercício, como sendo “nutrição esportiva”. Abordagens nutricionais de caráter de rendimento podem não ser favoráveis àqueles que buscam simplesmente saúde, bem-estar, qualidade de vida e composição corporal por exigirem além do que esses objetivos citados necessitam. Afinal, periodização nutricional demanda não só do atleta que vai realizar, mas também do raciocínio clínico do nutricionista que irá executar.

Referências:

Bartlett JD, Hawley JA, Morton JP. Carbohydrate availability and exercise training adaptation: too much of a good thing? Eur J Sport Sci. 2015;15:3–12.

Cramer MJ, Dumke CL, Hailes WS, Cuddy JS, Ruby BC. Postexercise Glycogen Recovery and Exercise Performance is Not Significantly Different Between Fast Food and Sport Supplements. Int J Sport Nutr Exerc Metab. 2015;25:448-55.

Hawley JA, Burke LM. Carbohydrate availability and training adaptation: effects on cell metabolism. Exerc Sport Sci Rev. 2010;38:152–160.

Lane SC, Camera DM, Lassiter DG, et al. Effects of sleeping with reduced carbohydrate availability on acute training responses. J Appl Physiol. 2015;119:643–655.

Marquet LA, Brisswalter J, Louis J, et al. Enhanced endurance performance by periodization of carbohydrate intake: “sleep low” strategy. Med Sci Sports Exerc. 2016;48:663–672.

Nilsson LH, Hultman E. Liver glycogen in man; the effects of total starvation or a carbohydrate-poor diet followed by carbohydrate feeding. Scand J Clin Lab Invest. 1973;32:325–330.

Shearman M. Athletics and football. London: Longman’s, Green, and Co.; 1887.

ARTIGOS RELACIONADOS
- Publicidade-
Google search engine

MAIS ACESSADOS